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domingo, 15 de junho de 2014

O QUE É PESQUISA-AÇÃO?

Conforme solicitado na O.T. de 25/08/2013, transcrevo abaixo, na íntegra, o trabalho postado no Grupo de Referência (Facebook), da D.E. Região de Jaboticabal-SP.

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O QUE É PESQUISA-AÇÃO?

Para Kemmis e McTaggart (1988), fazer pesquisa-ação significa planejar, observar, agir e refletir de maneira mais consciente, mais sistemática e mais rigorosa o que fazemos na nossa experiência diária.


Duas ideias, em geral, definem um bom trabalho de pesquisa:
a) que se possa reivindicar que a metodologia utilizada esteja adequada à situação, e
b) que se possa garantir de certa forma um acréscimo no conhecimento que existe sobre o assunto tratado.

A pesquisa-ação implica, portanto, produzir mudanças (ação) e compreensão (pesquisa). Tais dimensões (mudanças e compreensão) podem contribuir na elaboração do projeto de pesquisa.

Cohen e Manion (1990) apontam três possibilidades de uso da pesquisa-ação:
  1. o professor individual que trabalha em uma sala de aula para produzir determinadas mudanças ou melhorias no processo de ensino-aprendizagem;
  2. a pesquisa feita por um grupo que trabalha solidariamente, assessorados ou não por um pesquisador externo;
  3. um professor ou professores que trabalham com um pesquisador ou uma equipe de pesquisa com um relacionamento permanente.

Há que se considerar que toda metodologia de pesquisa e as diversas tendências ideológicas do pesquisador ou do grupo, influenciarão a escolha do marco teórico, a interpretação dos resultados e as conclusões do trabalho.
Para alguns pesquisadores que utilizam métodos e metodologias convencionais, a pesquisa-ação é pobre, mas aplicam critérios que são adequados para o seu estilo de pesquisar: quantificação, controle, objetividade etc. Existem situações reais em que a pesquisa-ação pode lidar com determinadas dificuldades bem melhor que outras formas de pesquisa “mais tradicionais”. O rigor, validade e confiabilidade são resultados da discussão e reflexão crítica com os participantes do grupo. Não é fácil, mas vale a pena. O método científico evoluiu para chegar a sua fase atual. A pesquisa-ação é recente, está evoluindo.

Objetivos da pesquisa-ação:

Seguindo as ideias de diversos autores (Kemmis e McTaggart, 1982; Dick, 1997 e 1998; Arellano, (s.d); O´Brien, 1998), a pesquisa-ação procura a mudança, mas, uma mudança para melhorar. Assim, os seus principais objetivos são:

1. Melhorar:     - a prática dos participantes;
- a sua compreensão dessa prática; e
- a situação onde se produz a prática.
2. Envolver:     - assegurar a participação dos integrantes do processo.
- assegurar a organização democrática da ação.
- propiciar compromisso dos participantes com a mudança.

Etapas ou passos da pesquisa-ação:


Existem diversos modelos que apresentam fases da pesquisa-ação, quase todos coincidem na existência de quatro momentos. O modelo de Susman e Evered (1978), graficamente apresentada na figura - etapas da pesquisa-ação:


1ª etapa- o diagnóstico:
  • Definição do problema;
  • Reflexão;
  • Planejamento da Ação;
  • Acordo.

2ª etapa- a ação:
  • Sensibilização.

3ª etapa- a avaliação:
  • Avaliação do processo;
  • Avaliação dos resultados alcançados;
  • Avaliação da aprendizagem teórica.

De acordo com Snyder (apud. Dick,1997), existem três etapas no processo de avaliação. Cada uma oferece uma forma diferente de avaliar e cada fase baseia-se na anterior:

  1. A avaliação do processo         //     Análise do Processo
  2. A avaliação dos resultados     //     Medição dos Resultados
  3. A avaliação cíclica         //     Desenvolvimento Contínuo

4ª etapa - a reflexão:
  • Fazer uma análise crítica do processo;
  • Verificar o cumprimento das metas;
  • Tornar público o aprendido.

Coleta de informações:
Na pesquisa-ação combina-se: a) a coleta de informações; b) a interpretação; c) a revisão da literatura; d) a revisão do relatório.
O Diário de Pesquisa: é o registro diário que o investigador faz do desenvolvimento do projeto. As anotações no diário podem ser utilizadas como dados. De acordo com Hughes (2000), os principais motivos para manter um diário de pesquisa são os seguintes: a) Gerar a história do projeto, o pensamento do pesquisador e o processo de pesquisa; b) Fornecer material para reflexão; c) Proporcionar dados para a pesquisa; d) Registrar o desenvolvimento dos conhecimentos de pesquisa adquiridos pelo investigador.

Pesquisa-ação e participação: antes de começar o trabalho é necessário considerar os graus de participação das pessoas. Assim:
- Deve ser possível a participação de todos os envolvidos.
- Todos devem ser ativos. Cada participante deve colocar a sua opinião e ajudar os outros a colocar as deles.
- A participação, no pode estar apenas no papel.
- Os graus de participação devem ser amplamente discutidos pelo grupo. Ninguém está isento das responsabilidades estabelecidas.
Seguindo as ideias de Dick (1997) a participação não é um assunto de tudo ou nada. Pode variar em diversas dimensões, e em cada uma dessas, existir ao longo de um contínuo. O autor distingue sete dimensões. Quatro fazem referência ao conteúdo da situação:
- fornecimento de dados; os participantes são informantes;
- interpretação de dados; os participantes são intérpretes;
- planejamento de mudanças; os participantes são planejadores ou tomam decisões;
- implementação; os participantes são executores.
Duas fazem referência ao processo de pesquisa:
- gerenciamento do processo de coleta de dados e interpretação; os participantes são facilitadores;
- planejamento da pesquisa; os participantes são pesquisadores o co-pesquisadores.
A sétima dimensão pode se aplicar tanto ao conteúdo, quanto ao processo, ou ambos:
- manter-se informado do projeto a suas implicações; os participantes são receptores.

Em cada uma dessas dimensões existe uma escolha a ser feita:
- quem deve participar?
- até onde chega a sua participação?
   
Participação dos stakeholders: existem pessoas que não podem deixar de participar em uma pesquisa-ação, são os chamados stakeholders – pessoa(s) grupo ou combinação de ambos que podem ser influenciados ou podem influenciar uma decisão ou ação. De acordo com Uhlmann (1995) sua participação é fundamental.
- Procura de consenso nas decisões. Por exemplo: Pode ser que alguma decisão tomada, agrade a um grupo de stakeholders e desagrade a outro; ou, podem surgir problemas no interior da comunidade por mal-entendidos ou desconfiança.

O Relatório da Pesquisa-Ação: igual à pesquisa tradicional, o relatório de pesquisa-ação apresenta cinco partes. As diferenças estão na organização e conteúdo dessas partes. Baseado nas sugestões de Hughes (2000), o relatório deve incluir:
1- Introdução;
2- Revisão da literatura;
3- Processo de pesquisa-ação e metodologia;
4- Discussão dos resultados;
5- Conclusão.

Critérios para avaliar um relatório de pesquisa-ação:
1- A utilidade do relatório para alunos ou interessados na realização de pesquisa-ação.
2- A contribuição do relatório para a melhoria dos programas, ações ou condições sociais.
3- A contribuição do relatório para o aprofundamento do conhecimento.
4- A clareza do relatório. A ação e o problema de pesquisa estão claramente determinados.
5- A revisão da literatura está adequada.
6- Existe um argumento lógico baseado em evidência empírica.
7- O relatório está bem apresentado, conforme as normas de apresentação de trabalhos científicos.

Avaliação da pesquisa-ação: de acordo com Bermejo (2000), durante as décadas iniciais a pesquisa-ação era considerada um modelo de experimentação onde a ação era submetida a prova. Felizmente, hoje, a pesquisa-ação começou a consolidar um tipo determinado de pesquisa que enfatiza a participação e a mudança - a pesquisa-ação não deve ser avaliada com os mesmos critérios da pesquisa empírica tradicional.
Se os objetivos são melhorar a participação e produzir mudanças, a avaliação deve incluir pelo menos três momentos:
- solução ou controle do problema que motivou o projeto;
- melhoria da democracia no grupo e na comunidade e aprendizagem dos participantes;
- desenvolvimento de resultados teóricos que apontem a mudanças no grupo.

O rigor na pesquisa-ação: “o rigor da pesquisa-ação não se baseia nos princípios da pesquisa empírica e experimental tradicional”. A sua natureza cíclica, permite uma revisão constante das informações e interpretações realizadas. Assim, podemos identificar quatro elementos que contribuem para o rigor científico da pesquisa-ação: a) Participação; b) Qualitativa;  c) A ação; d) Emergente..
Há que se considerar que a adoção da Pesquisa-Ação não parece algo tão fácil, no entanto,  considerando o fato de que estamos a todo momento em contato com novos desafios, os quais nos remetem a tomadas de decisões, é necessário relevar as possíveis dificuldades, estudar os fatos, as situações que nos cercam e  nos respaldarmos com dados relevantes que possam nos levar a ações acertadas. É nesse aspecto, mesmo sabendo que a Pesquisa-Ação pode ser aplicada em diversas áreas, que vejo sua aplicabilidade na área da Educação como um benefício, pois esta tende a contribuir para melhorar a participação das pessoas e, concomitantemente,  produzir transformações.

Referência bibliográfica:

RICHARDSON, Roberto Jarry. Como fazer pesquisa ação? Disponível em: http://www.ic.ufmt.br:8080/c/document_library/get_file?p_l_id=12683&folderId=53266&name=DLFE-2406.pdf . Pesquisa realizada em: 31/08/2013.

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